quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O Brasil e a agricultura mundial

É hoje bastante conhecido que o Brasil tem uma posição muito relevante na agricultura mundial, resultado de uma construção realizada nos últimos 40 anos. Entretanto, talvez não seja ainda tão claro que essa relevância tende a crescer ainda mais e que a indução à criação de novas atividades industriais deva se expandir de forma significativa.
Pretendo neste artigo explorar essa questão, a partir da construção de um diagrama bastante



São eles os EUA, os Brics, Japão,México e Indonésia. No círculo amarelo coloquei os países com PIB superior a US$ 1 trilhão correntes, ainda em 2008. Com exceção da Indonésia (cujo PIB só em 2010 atinge o US$ 1 trilhão), todos os países acima mencionados se repetem; além destes, têm PIB elevado a França, Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália, Austrália e Canadá. Finalmente no círculo azul coloquei, como indicador (imperfeito, porém simples) de capacidade de grandes produções os países com área agricultável superior a 30 milhões de hectares. Neste caso aparecem, além dos EUA, dos Brics, da Austrália e do Canadá, a Argentina.

Muitas observações podem ser feitas a partir dessa apresentação bastante simples. Gostaria de chamar atenção para:

1.Os grandes países europeus terão cada vez menos importância na definição do mercado mundial. Como se sabe, sua produção agropecuária só se mantém à custa de fortes subsídios, o que será cada vez mais difícil de sustentar, considerando a profunda crise fiscal por que passa a região. Além disso, todos esses países estão entrando firme na fase de redução da população total. É importante que o Brasil continue lutando pela abertura de mercados, mas os europeus serão clientes cada vez menos importantes.

2.Japão e México têm uma posição frágil, pois são importadores de alimentos, mas pouco dinâmicos. A longa estagnação do crescimento japonês e a forte redução da população em termos absolutos geram um mercado com poder de compra, mas sem grandes perspectivas. Por outro lado, o México depende da importação de milho, matéria-prima básica de sua alimentação; em consequência, quando o preço do milho se elevou, como resultado da maior utilização do produto americano na fabricação de etanol, houve uma forte pressão inflacionária e crise social.

3.Do lado da produção, Canadá, Austrália e Argentina sempre tiveram papel relevante. Entretanto, essa posição vem sendo em parte erodida: no caso da Austrália, a oferta de água e as elevadas temperaturas têm recorrentemente prejudicado a produção de alimentos. Já na Argentina, a lamentável política econômica levou à diminuição de produções tradicionais, comocarne, trigoe milho. Apenas a soja (e seu óleo) é hoje, de fato, relevante em termos do mercado global.

4.O jogo agrícola mundial, em termos de oferta e demanda, é hoje claramente concentrado em apenas cinco países: EUA, Rússia, China, Índia e Brasil. Neste grupo, o consumo é bastante elevado e a produção altamente significativa. Não falamos apenas em alimentos, mas também em biocombustíveis e insumos para a produção.

5.China e Índia, entretanto, já exploram quase a totalidade de sua área agricultável. Ambos têm também severos problemas na oferta de água, e seus aquíferos estão sendo explorados muito além da reposição propiciada pela natureza. Assim, ao longo do tempo, serão muito mais importantes no crescimento da demanda do que na produção. A China, por exemplo, está se tornando um importador de milho, e certamente vai elevar suas compras externas de carne de frango e de suínos.

6.Rússia e Estados Unidos ainda poderão elevar suas produções, mas já utilizam algo como 60% de toda a área passível de ser utilizada.

O Brasil é o país com mais possibilidades de elevar sua produção como resposta ao aumento da demanda local e,especialmente, da internacional. O País não utiliza com lavouras mais que 20% da área disponível; não necessita queimar nem um hectare de floresta para elevar a produção; tem uma adequada oferta de água e outros insumos, de empreendedores e de trabalhadores e, especialmente, tem um fluxo de geração de inovações que resulta em persistente crescimento da produtividade, ao contrário de boa parte de nossa indústria. Na agricultura, a assunção de risco e a busca incessante por novas tecnologias faz parte do dia a dia de todos.

Apenas para ilustrar a crescente relevância da produção brasileira, mostro na tabela ao lado algo, talvez menos conhecido, que é a evolução do rebanho bovino nas principais regiões do mundo. Como se vê, entre 2000 e 2010, há uma queda generalizada no rebanho, que chega a 9% na União Europeia e a quase 5% nos Estados Unidos. No mesmo período, o rebanho brasileiro cresceu 23%.

Quem, além do Brasil, poderá melhor atender à crescente demanda por carne vermelha no mundo? Entretanto, o sucesso do agronegócio brasileiro incomoda um bocado de gente. As críticas à "primarização" (elevação da importância do agronegócio, de minérios e de petróleo) da economia e da pauta de exportações vão em, pelo menos, três direções: as cadeias de recursos naturais empobrecem tecnologicamente o país e a pauta externa; as exportações nos fazem excessivamente dependentes da China e, finalmente, levam a algum tipo de desindustrialização.

A associação entre produção a partir de recursos naturais e pobreza tecnológica é um dos mitos mais resistentes no Brasil. Entretanto, nunca é demais lembrar que a densidade tecnológica no agronegócio e na produção de petróleo em águas profundas é bastante grande, e deve se elevar substancialmente no futuro próximo; ao mesmo tempo, a produção agrícola, de óleo e de minérios produz uma demanda derivada por equipamentos de expressiva magnitude.

É correto que as exportações agrícolas dependem crescentemente da Ásia, o que coloca algum risco. Entretanto, é preciso lembrar que o setor pode e deve elevar substancialmente a produção de biocombustíveis avançados e componentes químicos, como solventes e outros, o que abre a possibilidade de grandes exportações para os países desenvolvidos, permitindo um maior equilíbrio entre mercados.

Finalmente, a associação simples entre exportações agrícolas e desindustrialização deve ser relativizada por duas observações: os novos produtos derivados da agricultura estão levando a fortes investimentos em plantas industriais. Por outro lado, a valorização do real não pode ser atribuída apenas aos ganhos de preços de produtos primários, embora a melhora nos tempos de troca concorra para tanto.

É preciso lembrar que as altas taxas de juros do Brasil atraem capital em larga escala, o que eleva a pressão sobre a cotação do real. Aliás, é exatamente o que está acontecendo nesse início de ano. Finalmente, já está ficando reconhecido que a indústria brasileira tem um sério problema de competitividade que, muito mais que o câmbio, resulta na baixa evolução da produtividade e da elevação de custos de produção.


Fonte: http://www.monsanto.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário