quinta-feira, 31 de outubro de 2013

IAC pretende controlar doença de citros com medicamento humano

A pesquisa, inédita, mostrou-se eficiente no controle da CVC e tem a vantagem de ter menor impacto ambiental. Os pesquisadores solicitaram patente para a descoberta no Brasil e no exterior

divulgação IAC
Partindo do pressuposto de que doença se combate com remédio, o Centro de Citricultura Sylvio Moreira do Instituto Agronômico (CCSM/IAC), localizado em Cordeirópolis (SP), fez uma descoberta inédita: substituiu, com sucesso, o uso de agrotóxicos por uma molécula já usada para tratamento de infecções bacterianas nas vias aéreas de humanos no controle de fitopatógenos dos citros, como a Xylella fastidiosa, da Clorose Variegada dos Citros (CVC).  “O trabalho é inédito, pois, apesar de essa molécula ser usada na medicina, nunca foi testada para combater doenças de plantas”, diz Alessandra Alves de Souza, a pesquisadora do IAC que está conduzindo a pesquisa.
A pesquisadora afirma que a importância da descoberta está no novo uso do produto, já usado como medicamento e que mostra não ser prejudicial para o homem, e no seu baixo impacto ambiental. “A dose empregada na planta é bem menor que a usada em seres humanos. Essa molécula também é usada para combater os radicais livres e ajuda na prática de exercícios físicos”, explica Alessandra, cuja equipe fez pedido de patente para a descoberta no Brasil e no exterior.
CVC e cancro cítrico
Os pesquisadores avaliaram essa molécula como estratégia para inibir ou desagregar o biofilme bacteriano da Xylella fastidiosa, causadora da CVC, e o da Xanthomonas citri, causadora do cancro cítrico. O biofilme formado pela bactéria Xanthomonas fica na superfície das folhas e o constituído pela Xylella se instala dentro da planta.
De acordo com a pesquisadora, no caso da Xanthomonas citri, esse biofilme protege as bactérias de estresses ambientais, entre eles o calor e raios UV, e de compostos antimicrobianos que possam afetar o desenvolvimento da bactéria, dentre eles o cobre, rotineiramente utilizado no controle químico da doença.
A pesquisa no Centro de Citricultura do IAC buscou encontrar uma estratégia para retardar ou inibir a formação dessa capa protetora nas folhas antes da infecção, a fim de tornar a Xanthomonas mais vulnerável. Assim a bactéria ficaria mais suscetível aos estresses ambientais e aos compostos antimicrobianos. Consequentemente, seria reduzida também a quantidade de produtos químicos e os focos da doença. “Com esse objetivo, avaliamos o análogo de aminoácido, o N-acetil-cisteína, chamado NAC, um agente com propriedades antibacterianas e que reduz a formação de biofilme em várias bactérias, principalmente causadoras de doenças em seres humanos”, explica Alessandra.
A pesquisa foi desenvolvida inicialmente em plantas com CVC e que receberam NAC com aplicações do produto por diferentes sistemas, como hidroponia e fertirrigação. Nesses casos, a doença voltou três meses após a interrupção do tratamento. Foi avaliado também o uso do NAC acoplado a um adubo de liberação lenta, situação em que a doença retornou apenas seis meses após a interrupção do produto. “Isso indica que o produto deve ser aplicado temporalmente, mas que, dependendo da forma de aplicação, os intervalos poderão ser maiores”, diz a pesquisadora.
A pesquisa teve início há quatro anos. Os resultados, definitivos em casa de vegetação e agora testados no campo, mostram que a molécula empregada não só reduziu a quantidade de bactérias Xylella fastidiosa capazes de colonizar o xilema das plantas, como também foi capaz de reverter os sintomas de plantas com CVC. Esses resultados de campo poderão estar finalizados em dois ou três anos, segundo o IAC.
No caso da Xanthomonas, o NAC teve efeito de desprendimento da comunidade bacteriana que vive sobre as folhas”, explica Alessandra. Segundo ela, a aplicação de N-acetil-cisteína com cobre reduziu em até mil vezes a concentração de bactérias nas folhas. “Daí concluímos poder se tratar de nova estratégia de manejo do cancro cítrico.”
Menor impacto ambiental
divulgação IAC
A pesquisadora Alessandra de Souza
Apesar de os experimentos serem conduzidos em condições controladas, em laboratórios e casa de vegetação, o custo final do uso dessa molécula é bastante viável. “O tratamento atual para CVC é à base de inseticida, o que, além de caro, tem alto impacto ambiental”, diz a pesquisadora., para quem a questão ambiental deve ser levada em conta.
O pesquisador Marcos A. Machado, diretor do CCSM/IAC e coordenador das pesquisas, ressalta, no entanto, que o uso do NAC não substitui os inseticidas para controlar vetores de doenças ou pragas. “Seu objetivo é diminuir a capacidade das bactérias do CVC e do cancro de se fixarem nas plantas, reduzindo assim a severidade dessas doenças. Ao reduzir o número de plantas doentes reduzirá, em consequência, o número de plantas fonte daqueles patógenos e assim a doença como um todo no pomar”, explica. “Ele não tem ação curativa e deve ser visto como um tratamento adicional que, somados a outros, pode reduzir a severidade de CVC e cancro cítrico no pomar”, completa, avisando que essas pesquisas ainda não têm resultados para as bactérias do HLB (greening).
A equipe do CCSM/IAC segue agora estudando novas formas de aplicação do NAC a fim de encontrar respostas ainda mais eficientes. Os próximos passos envolvem testes em campo para controle da CVC e testes em casa de vegetação para controle do cancro cítrico e HLB .
A pesquisa tem apoio dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT), de Genômica para Melhoramento de Citros e o IAC colaborará com grupos para testes em outras culturas.

Fonte: IAC

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